Prezados amigos,
Graças a Deus o cd Terra Adentro chagou,e com ele mais uma semente de identidade no rumo de uma cultura própria foi plantada,agradeço a todos os musicos, cantores , poetas que participaram e em especial agradeço a Joca Martins, Juliana Spanevello e Silvério Barcellos pela atenção e o carinho para com esta obra, deixo aqui alguns poemas que estão no cd, logo vou postar todos, dia 25 estarei junto a Joca Martins no lançamento do DVD 25 anos no teatro Tulio Piva, lá estarei disponibilizando o CD Terra Adentro.
abraço aos amigos.
SOU - POEMA
Sou...
Ainda sou;
Irmão do chão, onde piso,
Filho da terra, onde estou.
Sou, como estes claros silêncios que escolhi ouvir
E que também me ouvem, por saber minha voz,
Esses, entendem as razões que tenho, de retornar em vento
E dividir lamentos, bordoneando solitário, junto as cordas do alambrado
Uma milonga sentida, que ainda insiste em dar vida;
Pra o verso que nunca fiz...
Sou, a mesma tira de tento, da lonca dos desenganos
Que atei, na idade dos anos, junto a forma das esporas e um par de botas de potro...
Meus iguais e tantos outros, irmãos de sina e desterro;
Que a sombra escura do medo, não deixa mostrar o rosto...
Sou, feito a crina do potro, preza ao sincero de um grampo,
Que entende, ser o arame, divisor das liberdades,
Das sentidas igualdades, que buscam, os “olhos” do campo...
Sou, a poeira que levanta, pra reinventar os caminhos
Mudando as formas do pago, por sobre o lombo dos ventos,
E as geografias antigas, que não sabiam fronteiras;
Refazem seus argumentos, ganhando cismas de tempo,
Pra renascerem, nos ponchos, nos pelos, no ferro de esporas;
Na copa, há muito judiada, dos chapéus de andar tropeiro...
Sou, o rio em caudal de espinhos, que turbulento passa, sem perceber a barranca,
Bem onde a flor, “alma branca”, abre pétalas sentidas;
Talvez, prenunciando a vida, talvez, sonhando uma espera,
Do amor, em asas abertas, que despertou primavera, na ingênua face de um beijo...
Sou, como a simples razão das luas, que emprestam a forma dos ranchos
Feitos de antigo, de barro, de sereno e santa fé;
E acolhem frágeis encantos, na humildade dos filhos,
Na paz dos tocos de vela, que iluminam as preces, na forma de “sinais Santos”;
Ou que protegem, os “assombros”, das intenções da infância..
Sou, a lacrimada palavra, que se despede da alma, para habitar um adeus,
Que não prendeu-se ao aceno, que a seda do lenço branco, redesenhou na porteira;
Paciente e verdadeira, como a imagem de quem fica,
Corajosa e solitária, como a imagem de quem vai...
Sou, o mesmo véu de sereno, que acorda em “alva” pele de geada,
Com seus mistérios de frio...
Cristalizando uma lágrima, que desprendeu-se da noite, ou do silêncio de estrelas;
Pra revelar-se inteira, sobre o secreto dos pastos, benzendo as horas dos cascos,
E endurecendo, os passos das barbudas alpargatas,
Que manifestam as razões, de reencontrar seus caminhos, antes dos “olhos” do sol...
Sou, o suor que escorre na face, os seus feitiços de sal,
Derramando esperanças, na força bruta dos pulsos,
Justificando a tentativa humana, de ferir a terra, pra plantar sementes;
Pra colher o fruto e transformá-lo em pão...
Sou, a identidade do negro, na gesta dos seus primeiros, na formação do seu tempo,
Na dor do encanto que tenho, que se reflete em amor...
Junto ao perdão ajoelhado, de quem não sabe ser prece, de quem não tem uma cruz;
Antes avesso da luz, por compreender os escuros,
Hoje avesso aos escuros, buscando o incerto da luz;
Aroma perfumando a flor da pele, onde as pétalas, por certo não tem cor...
Sou...
Sou teu igual, Genuíno;
Irmão do chão onde piso,
Filho da terra, onde estou...
Lua Minguante, Dezembro, 2011.
Adriano Silva Alves.
PONCHITO
CHAMARRITA
RASGUIDO DOUBLE
Ah... meu sol de madrugada!
Quando rastreando orvalho,
Saía contigo boleado no mais
E bem “gaucho” repontava a cavalhada.
Ponchito meu companheiro,
Trompador das invernias,
Color cinza envelhecido,
Minha coberta farroupilha.
Contigo nunca melei
Lichiguana a campo fora,
Nem nunca mordi de espora
Tua franjita gaúcha.
E em tropa larga, cuê pucha,
Numa tormenta aragana,
Entre tua lã e a badana,
Meu rancho de alma charrua.
E quando o sol esquentava,
Nas manhãs de algum outono,
Coava tropa em porteira,
Te abanando qual um mango.
Ponchito de color cinza,
Meu atavismo crioulo,
Regalo de Don Barboza,
A quem dedico este canto.
REBENQUE
MILONGA
SOLICITUDE DE COURO
E MADEIRA RESERVADA,
MANTENEDOR DO EQUILIBRIO
SOBRE O RESPALDO DAS PATAS.
E DEVE DE APARENTAR,
A INTENÇÃO DE SEU DONO,
QUANDO PACIÊNCIA E RETOVO
TOCA A QUEM SABE DAR,
COURO CRU JÁ DESTINADO,
AO RESPEITO E A OBEDIÊNCIA,
CALCULA O BOTE MAIS CERTO
COM A CERTEZA DA CADÊNCIA.
PARCEIRO DA VELHA ADAGA,
CONHEÇEM BEM O OFICIO,
DE ANDAR MUNICIANDO O VICIO
DE APAZIGUAR AS BRAVATAS.
SEU MANDAMENTO DE CAMPO,
DEFENDE CABEÇA E VIRILHA
DO PINGO QUE SE DESTINA
A SER PINGAÇO DE ENCILHA.
DOS DESCAMPADOS HERDOU
OS ESTOUROS E AS BRANDURAS,
RESSECOS DA LIDA DURA,
UMIDADES DE SUOR.
EMBORA DE OFICIO DURO,
PELO TEMPO ASSINALADO,
GUARDA NA PRATA MACIÇA
A NOBREZA, PERPETUADA.
Memorial do tempo.
chamamé
Mundo velho já faz tempo,
“Me adentro” ao campo da alma, chamamé
São incursões verdadeiras,
Coisas de terra e capim,
Prolongamentos de mim,
Circunstancias de uma raça,
Legendas de pátria “gaúcha”
Que não morrera assim.
A sagração das taperas,
Guarda oração de silêncios,
Comungando com os ventos,
De quem já não vive nelas,
Pois assinalam querências,
Memorial de identidades,
Traduzindo no seu eu,
O coração da saudade.
Renovando a raça antiga,
Sem me apartar do que fui,
E o que sou é o bisavô,
Navegando no meu basto.
Ao cruza-las verifico,
Que é meu povo campo e alma,
Cavalo, encilha, guitarra,
O que assim me justifico,
E se no mais eu insisto,
Em frutificar saudades,
Porque é delas as verdades,
Conservando o que acredito.
Daí então este tempo,
Que as taperas assinalam,
Vive em mim nos meus cavalos,
O que assim me justifico,
Daí então este tempo,
Que as taperas assinalam,
Vive em mim nos meus cavalos,
O que assim me justifico,
Renovando a raça antiga,
Sem me apartar do que fui,
E o que sou é o bisavô,
Navegando no meu basto.
CORAÇÃO DE PROVÍNCIA
MILONGA
MEU CORAÇÃO VEM DO CAMPO,
ABANOS DE UM PALA RUBRO,
DO ENTARDECER DO RINCÃO,
DE ONDE FICOU MEUS REMANSOS.
TROUXE UMA LUZ PRA OS ESCUROS,
UM VAGALUME PALHEIRO,
E OS REMÉDIOS PRA OS FEITIÇOS
DAS SABENÇAS DOS JUJEIROS.
DAS NOITES TROUXE O SILÊNCIO
QUE ESCUTO QUANDO ME APOTRO,
AMENIZANDO A MEU MODO
ANGUSTIAS DE UM AUSENTAR.
E UMA GUITARRA ANTIGA
ALMA DE CAMPO E MADEIRA,
COM O TIMBRE DAS RECORRIDAS
E O BRILHO DAS FOGONEIRAS.
QUANDO EU CISMO BUSCO UM RUMO
POR ENTRE AS COISAS QUE TENHO,
BUSCO MATAR MEUS ANSEIOS
NO MODO DE AQUERENCIAR.
ESTA ALMA JÁ PREVIA
OS PONTAÇOS DA SAUDADE,
POR ISSO CONSTRÓI MLONGAS
PRA ESCORAR AS SOLEDADES.
É QUE EU JÁ VIM VOLTANDO,
VEM O CORPO E A ALMA FICA,
DE NADA ADIANTA RUMBIAR
UM CORAÇÃO DE PROVÍNCIA.
UM CORAÇÃO DE PROVÍNCIA
QUANDO RUMBEIA DE LÁ,
VIVE A CANTAR MILONGAS
PRA PODER SE ENCONTRAR.
A tropa milonga (toada de ronda)
Largo no mais esta cantiga, De tropa larga, de tropa linda,
Que é bem antiga, gaúcha e calma,
Que ainda vive nas nossas almas.
Coisa mais linda coar a tropa,
Poeira e casco, a procissão
Vida e estrada, e um coração,
Batendo a marca das recolhidas.
E o meu cavalo conhece o tempo,
Sabe dos ventos varrendo o chão,
Chegou inteiro nesta charqueada,
Veste a saudade lá das missões.
E a minha guitarra pediu licença,
Pras noites calmas de acampamento,
Rondando a tropa junto ao braseiro,
Timbrou milongas de fundamento.
Meu velho poncho que tem dois pelos,
Por dentro é o rubro de um braseiro,
E o meu sombreiro de folha larga,
É um céu de abas pra um tropeiro.
Não houve estouros,
A tropa é calma,
Empresta a vida pra o velho mundo,
Empresta o couro pra um laço forte,
Cinchar a luz, num tempito escuro.
E os meus olhos chegam floridos,
Destes rincões de moças lindas,
Donde as janelas dos rancherios,
O espio moreno pra comitiva.
Obs: o poema diz respeito a uma tropa vinda das missões para as charqueadas de Pelotas, fato muito comum na época das charquedas.