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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Pelotas,27 de novembro de 2012.

                 Meus amigos,


             Ganhamos o festival Ponche Verde da cidade de D. Pedrito,edição 2012,uma grande felicidade, com a composição Ponche Verde em parceria com Fábio Peralta.
             Ganhar um festival é importante, mas mais importante é se manter vivo culturalmente, porque é necessário, quando se faz coisas sérias e que vão ficar aqui como referência cultural.
              Falo isso porque um festival de musica envolve muito mais do que um simples final de semana, ele questiona a responsabilidade musical que referencia a cultura, ele deixa marcas, embora não pareça e ele mostra a cara das pessoas.Foi muito bom estar lá e constatar que o público gostou da musica vencedora.

                                                       PONCHE VERDE


Chacarera

Verde estendido de poncho,

“Empastiçado” em planuras,

Presságios de vento e lua,

De sóis , escuros e chuvas.



Riqueza que vem da terra,

Clorofilada de pastos,

Teu olhar de quietudes,

Acolhe “paradouros” de gado.



Criaste homens gaúchos,

Na aragem branda do tempo,

Voz bilíngüe de repontes

Em cada marco fronteiro.



Prosa rosilho prateada,

Nas manhãs das campereadas,

Recorrendo a flor da lida,

No coração da invernada.



Povoamento estancieiro,

De cada dia campeiro,

Laço voando nos ares,

Pescando a força dos touros.



Por aqui índios Pampeanos,

Testemunharam os estouros,

Das pedras das boleadeiras,

No encontro de terra e couro.



E depois os contrabandos,

Abriram o céu das picadas,

Tangendo mesclas de raças,

Pra formação das estradas.



E vieram outras raças,

Dos feitos contrabandeados,

Fortes, tal qual, minuanos,

E cernes de “moironadas”.



Verde estendido de poncho,

Do avô que foi farroupilha,

Do Pampeano bisavô,

Do moço contrabantista.



Da morena,pele índia,                                                             obs:Paradouro-onde dorme

Com os lábios “pitangueados”                                                                                 o gado.

Lonjura de paz fronteira,                                                         Índios Pampeanos:Primeiros habitantes

Que abençoou os dois lados,                                                                                  do Ponche Verde.

                                                                                               Moironadas-Moirões cravados

                                                                                               Pitangueados-Pintados com pitanga.

                                 Abraço a todos.

terça-feira, 31 de julho de 2012

 Prezados amigos,

            Deixo aqui todos os poemas que fazem parte do CD TERRA ADENTRO, e algumas imagens capitadas pelo fotografo Nauro Junior que sempre possibilita visualizr sua foto como uma obra de arte, abraço a todos.




CUNUMI

CHAMAMÉ


CUNUMI...
INFÂNCIA DA RAÇA,
QUE HABITA ESTRADAS,
CESTOS DE TAQUARA,
SORÇAL GUAYAQUI.
REPRESA TEUS SONHOS
NO CHÃO DO TERREIRO
E ESPERA UM POMBERO
LHE TIRAR DALI...

CUNUMI...
ÉS UM JURITI
DE PELE MORENA,
E ASAS PEQUENAS,
OLHAR GUARANY.

CUNUMI...
ALMITA DE BARRO,
TRABALHO E TRABALHO,
MESCLADO AO ORVALHO,
CERNO DE AGUAÍ.

CUNUMI...
E ESTE MEU PAIS
DE BRASILIDADES,
QUE VIVE A VAIDADE,
E NÃO OLHA PRA TI.

CUNUMI...
E ESTE MEU PAIS
QUE TE DEVE TANTO,
E ROUBA TEU CANTO
E CANTA POR TI... ( CARNAVAL)

CUNUMI....
ESTE É MEU PAIS
QUE QUEIMA TUA GENTE,
IMPUNEMENTE,
DIANTE DE TI. (BRASILIA)

CUNUMI...
PERDÃO EU TE PEÇO,
POR VER TUA INFÂNCIA
NÃO SER A CRIANÇA
QUE VIVEU EM MIM.

CUNUMI....
INFÂNCIA DA RAÇA,
DE PELE MORENA
E ASAS PEQUENAS,
ÉS UM JURITI...

Glossário
Cunumi- Menino(a)   Guri(a)
Guayaqui- Tribo indigena
Sorçal: Murmúrio da natureza
Pombero- Duende
Juriti- Ave de pequeno porte
Aguaí- Madeira muito resistente.

O poema diz respeito aos Guaranys que vivem a beira das estradas, os que não se prostituem, trabalham duro na confecção de cestos e outros artesanatos.




CISMANDO   GLÊNIO PORTELA FAGUNDES




De onde terás vindo

Vida matreira que hoje és minha!...

Que campos perdidos no infinito!...

Encontrei em ti consciência da razão maior para viver, que ter nascido

Vagando em pagos feito pela ausência

Despertando sois...

Amadureceste a sombra fria...

E eu sou mais no bem comum

Que tenho pela vida

Por saber que és o mesmo Deus

Que habita em mim

São iguais quem são sozinhos

Eu também sou tu,

Buscando a interpenetração das querências

Num pago feito de saudade

Vivo laçando estrelas, madrugando luas...

...e eu que pensei que a roda fosse feita de chegadas e partidas!...

Mas a roda não chega, nem parte

Vive em torno de si

Para dar ao corpo da carreta

Como eu, ilusão de ânsias percorridas!...



Deus plantou o homem na terra

Deu-lhe raízes no vento...

Voz ao pensamento,

Luta na paz, paz na guerra.

E o homem deparou em si a origem das perguntas

Eu sou a maior pergunta!...

Mas quem sou...

Não me basta de dia viver no corpo

E a noite viver na alma...

O homem que sou nasceu em mim!...

Pensou... sou semente...

Sou semente que chegou no tempo,

Pousei num ventre

Despertei nesta existência!...

Plasmado no estado de ser

Me fiz querência...

Alimento um elo cíclico telúrico da raça

Raçador, sou o prosseguimento de meus avôs

Para que meus filhos sejam entre mim e meus netos.



...mas sei, que plantado num sono de terra

Voltarei um dia destes

A nascer da morte,

Porque a terra,

A terra é o maior de todos os ventres desta vida

Sou semente que chegou no tempo!...

E sou antes mesmo de saber que era...

Hoje que sei, não me permito morrer nunca!...



... mas se após a minha morte,

Não houver mais nada...

Faço deste nada

Uma espera... sem pressa, sem tempo,

Para tornar a ser um dia...

Por isto,...

Por mais que siga distante...

Sei que não saio de mim

Sou no princípio e no fim,

Razão pura da existência...

Que vagando na querência...



O som da palavra pura,

Na expressão do pensamento

É a estrada feita no vento

Onde eu transito sem forma...

Perfumando a brisa morna

Pela preguiça do tempo...



Tenho rimas de silêncio...

Quando em vulto me desfaço...

Vogando sobre meu passo,

No rumo que me convém,...

Deixando a rima que vem

Pro verso que eu nunca faço...



Por mais que siga distante...

Sei que não saio de mim

Sou no princípio e no fim,

Razão pura da existência...

Que vagando na querência...



DAS CISMAS DE UM CAMPEIRO
MILONGA



Trago na alma gaviona,

Algum grito tajaneado,

Pelos matos de aroeiras,

Pitangueiras e banhados.



Nos mananciais extraviados,

Bronzeados de entardecer,

Que eu sempre redesenhei,

Tentando entender meus passos.



Atropelo minhas ânsias,

No lombo de um zaino negro,

Procurando o segredo,

Da intimista solidão.



E as vezes minha oração,

É um tropel de guitarra,

Com a lua “entordilhada” ,

Em sonora comunhão.



Por vezes pealo o silêncio,

Numa milonga de campo,

Com ares de contrabando,

Mesclada com serenal.


Sestrosa feito um bagual,

Ponta de cerda esvoaçando,

Macia tal qual o couro

Do tento de um bocal.



Logo abaixo da estribeira,

Sem se importar com lonjuras,

Perro baio , alma de bruxo,

“Me ajuda” a filosofar.



Num repente atalha a frente,

No esboço das taperas,

Farejando ancestrais,

Colhendo pratas da lua.



Olhos do céu me espiando,

Estrelas bordando a alma,

Passo a passo, tranco e calma,

Presságios da minha essência.



Pois já nasci com a cadencia,

Das nazarenas e bastos,

E algum manojo de pasto

Jujando minha existência..




POVOAMENTO


Milonga.

Tenho a alma mais antiga,
Que as razões do continente,
Guardei luas e divisas,
Circunstâncias do meu nome,
Que anoitece ao sul do mundo
Na garganta dos cantores.

Casta índia,espanhola,
De solidões arabescas
Conduzindo tropas largas,
Do sacramento , a colônia,
Changador , desjarreteando
Meia lua de uma lança.

Esparramei meus ajojos
Nos descampados da pampa,
Nas patas dos redomões,
De Don Pedro de Mendonça,
Prolongavam os meus braços
Três pedras e uma lança.

Tenho a idade do couro,
As margens do Rio da Plata,
Andei fogoneando saudades
Na madeira da vigüela,
Que um dia chegou a mim
Das investidas da Ibéria.

Então levantei estâncias
Nas coxilhas cepilhadas,
E os mandamentos do charque
Me plantaram nas ramadas,
Depois mangrulhei fortins,
Com o ferro branco da adaga.

Se a hoje a alma é forjada,
Com sereno de querência,
É porque trago a essência,
Tingida das quatro luas,
E a cada uma delas
Maneada minha existência.





Glossário


Arabescas- Relativo ao Árabe ou estilo.

Changador-Tarefeiro , antecedeu e deu origem ao Gaúcho Desjarreteando- Ato de cortar o jarrete para

Imobilizar o boi através da lança de meia lua.

Ajojos- De ajoujos-Cordas que prendem bois e

e outros animais. Aculturada para ajojo-

Esparramar ajojos, encontrar liberdade.

Don Pedro de Mendonza – Introduziu o cavalo

na América.

Vigüela – Do espanhól- Guitarra

Ibéria- Relativo a península Hispânica

Mangrulho- O que ficava nos mirantes para

avisar de ataques, espécie de ronda.


Tierra adentro


Milonga

Yo traigo del capataz

El sentir de los camperos

Del peón esos añelos

De andar abriendo tranqueras

Pa' que cruzen los recuerdos

En las noches galponeras

Canciones de patrias viejas

Que trae el viento pampero

Conservo cosas antiguas

Como extensiones del alma

Poncho-patria, nazarenas

Recao', sombrero, vigüela...

Tesoros que son sencillos

Lucecitas que reflejan

Una vida que se aleja

Pero no pierde su brillo

Aprendi con los mayores

Las enseñanzas del campo

Hay tantos que tienen tanto

Y casi todo les falta

La vida más olvidada

Siempre tiene su sentido

Y a veces quien poco tiene

Por dentro es mucho más rico

Si preguntaren quien soy

Digo que soy lo que canto

Y al cantar vivo opinando

Pa' no perderme jamás

Criolla sangre del tiempo

Que corre libre en mis venas

Pues no han inventao' cadenas

Pa' quien nació:... tierra adentro!

Por eso llevo estas coplas

- Memoria contra el olvido -

Pa' que mi raza amerindia

Vuelva a cruzar los caminos

En el cantar de esa gente

Que es mi razón y destino

Y pa' que el saber de los padres

Siga en la voz de sus hijos.

Yo soy el grito del tero

En las llanuras del pampa

Yo soy el gaucho que canta

En viejos patios de tierra

Criolla sangre del tiempo

Que corre libre en mis venas

Pues no han inventao' cadenas

Pa' quien nació:... tierra adentro!




Alma de barro em madeira.


Chacareira.

Meu jeito índio de ser,

Alma de barro em badeira,

Guitarra aflorando secretos,

Nos rumos da chacareira.


Por entre montes confiado,

Nas partituras do vento,

Largo meu canto no mais,

Pela elegia do tempo.


Cada copla se fez flor,

Onde mais precisa estar,

Aroma dias e noites,

Leva o perfume ao lugar.


E, me vou, em cada nota,

Levando do meu lugar,

Alma de barro em madeira,

Poucas penas e um cantar.


Meus amores foram poucos,

Mas aprendi a amar,

Resguardando pras procuras,

O que busco encontrar.


Em meus dias verdadeiros,

Enraizei minhas origens,

A ser idioma pra o mundo,

De alma sem cicatrizes.


Ocasião em minha guitarra,

Brotou esta chacarera,

Índia origem de minha raça,

Alma de barro em madeira.



quinta-feira, 19 de julho de 2012

 Prezados amigos,
      Graças a Deus o cd Terra Adentro chagou,e com ele mais uma semente de identidade no rumo de uma cultura própria foi plantada,agradeço a todos os musicos, cantores , poetas que participaram e em especial agradeço a Joca Martins, Juliana Spanevello e Silvério Barcellos pela atenção e o carinho para com esta obra, deixo aqui alguns poemas que estão no cd, logo vou postar todos, dia 25 estarei junto a Joca Martins no lançamento do DVD 25 anos no teatro Tulio Piva, lá estarei disponibilizando o CD  Terra Adentro.

                                         abraço aos amigos.


SOU - POEMA

Sou...
Ainda sou;
Irmão do chão, onde piso,
Filho da terra, onde estou.

Sou, como estes claros silêncios que escolhi ouvir
E que também me ouvem, por saber minha voz,
Esses, entendem as razões que tenho, de retornar em vento
E dividir lamentos, bordoneando solitário, junto as cordas do alambrado
Uma milonga sentida, que ainda insiste em dar vida;
Pra o verso que nunca fiz...

Sou, a mesma tira de tento, da lonca dos desenganos
Que atei, na idade dos anos, junto a forma das esporas e um par de botas de potro...
Meus iguais e tantos outros, irmãos de sina e desterro;
Que a sombra escura do medo, não deixa mostrar o rosto...

Sou, feito a crina do potro, preza ao sincero de um grampo,
Que entende, ser o arame, divisor das liberdades,
Das sentidas igualdades, que buscam, os “olhos” do campo...

Sou, a poeira que levanta, pra reinventar os caminhos
Mudando as formas do pago, por sobre o lombo dos ventos,
E as geografias antigas, que não sabiam fronteiras;
Refazem seus argumentos, ganhando cismas de tempo,
Pra renascerem, nos ponchos, nos pelos, no ferro de esporas;
Na copa, há muito judiada, dos chapéus de andar tropeiro...

Sou, o rio em caudal de espinhos, que turbulento passa, sem perceber a barranca,
Bem onde a flor, “alma branca”, abre pétalas sentidas;
Talvez, prenunciando a vida, talvez, sonhando uma espera,
Do amor, em asas abertas, que despertou primavera, na ingênua face de um beijo...

Sou, como a simples razão das luas, que emprestam a forma dos ranchos
Feitos de antigo, de barro, de sereno e santa fé;
E acolhem frágeis encantos, na humildade dos filhos,
Na paz dos tocos de vela, que iluminam as preces, na forma de “sinais Santos”;
Ou que protegem, os “assombros”, das intenções da infância..
Sou, a lacrimada palavra, que se despede da alma, para habitar um adeus,
Que não prendeu-se ao aceno, que a seda do lenço branco, redesenhou na porteira;
Paciente e verdadeira, como a imagem de quem fica,
Corajosa e solitária, como a imagem de quem vai...

Sou, o mesmo véu de sereno, que acorda em “alva” pele de geada,
Com seus mistérios de frio...
Cristalizando uma lágrima, que desprendeu-se da noite, ou do silêncio de estrelas;
Pra revelar-se inteira, sobre o secreto dos pastos, benzendo as horas dos cascos,
E endurecendo, os passos das barbudas alpargatas,
Que manifestam as razões, de reencontrar seus caminhos, antes dos “olhos” do sol...

Sou, o suor que escorre na face, os seus feitiços de sal,
Derramando esperanças, na força bruta dos pulsos,
Justificando a tentativa humana, de ferir a terra, pra plantar sementes;
Pra colher o fruto e transformá-lo em pão...

Sou, a identidade do negro, na gesta dos seus primeiros, na formação do seu tempo,
Na dor do encanto que tenho, que se reflete em amor...
Junto ao perdão ajoelhado, de quem não sabe ser prece, de quem não tem uma cruz;
Antes avesso da luz, por compreender os escuros,
Hoje avesso aos escuros, buscando o incerto da luz;
Aroma perfumando a flor da pele, onde as pétalas, por certo não tem cor...

Sou...
Sou teu igual, Genuíno;
Irmão do chão onde piso,
Filho da terra, onde estou...

Lua Minguante, Dezembro, 2011.

Adriano Silva Alves.


PONCHITO
CHAMARRITA
RASGUIDO DOUBLE

Ah... meu sol de madrugada!
Quando rastreando orvalho,
Saía contigo boleado no mais
E bem “gaucho” repontava a cavalhada.

Ponchito meu companheiro,
Trompador das invernias,
Color cinza envelhecido,
Minha coberta farroupilha.

Contigo nunca melei
Lichiguana a campo fora,
Nem nunca mordi de espora
Tua franjita gaúcha.

E em tropa larga, cuê pucha,
Numa tormenta aragana,
Entre tua lã e a badana,
Meu rancho de alma charrua.

E quando o sol esquentava,
Nas manhãs de algum outono,
Coava tropa em porteira,
Te abanando qual um mango.

Ponchito de color cinza,
Meu atavismo crioulo,
Regalo de Don Barboza,
A quem dedico este canto.

 
REBENQUE

MILONGA

SOLICITUDE DE COURO
E MADEIRA RESERVADA,
MANTENEDOR DO EQUILIBRIO
SOBRE O RESPALDO DAS PATAS.

E DEVE DE APARENTAR,
A INTENÇÃO DE SEU DONO,
QUANDO PACIÊNCIA E RETOVO
TOCA A QUEM SABE DAR,

COURO CRU JÁ DESTINADO,
AO RESPEITO E A OBEDIÊNCIA,
CALCULA O BOTE MAIS CERTO
COM A CERTEZA DA CADÊNCIA.

PARCEIRO DA VELHA ADAGA,
CONHEÇEM BEM O OFICIO,
DE ANDAR MUNICIANDO O VICIO
DE APAZIGUAR AS BRAVATAS.

SEU MANDAMENTO DE CAMPO,
DEFENDE CABEÇA E VIRILHA
DO PINGO QUE SE DESTINA
A SER PINGAÇO DE ENCILHA.

DOS DESCAMPADOS HERDOU
OS ESTOUROS E AS BRANDURAS,
RESSECOS DA LIDA DURA,
UMIDADES DE SUOR.

EMBORA DE OFICIO DURO,
PELO TEMPO ASSINALADO,
GUARDA NA PRATA MACIÇA
A NOBREZA, PERPETUADA.



 Memorial do tempo.
chamamé


Mundo velho já faz tempo,
“Me adentro” ao campo da alma, chamamé
São incursões verdadeiras,
Coisas de terra e capim,
Prolongamentos de mim,
Circunstancias de uma raça,
Legendas de pátria “gaúcha”
Que não morrera assim.

A sagração das taperas,
Guarda oração de silêncios,
Comungando com os ventos,
De quem já não vive nelas,
Pois assinalam querências,
Memorial de identidades,
Traduzindo no seu eu,
O coração da saudade.

Renovando a raça antiga,
Sem me apartar do que fui,
E o que sou é o bisavô,
Navegando no meu basto.

Ao cruza-las verifico,
Que é meu povo campo e alma,
Cavalo, encilha, guitarra,
O que assim me justifico,
E se no mais eu insisto,
Em frutificar saudades,
Porque é delas as verdades,
Conservando o que acredito.

Daí então este tempo,
Que as taperas assinalam,
Vive em mim nos meus cavalos,
O que assim me justifico,
Daí então este tempo,
Que as taperas assinalam,
Vive em mim nos meus cavalos,
O que assim me justifico,

Renovando a raça antiga,
Sem me apartar do que fui,
E o que sou é o bisavô,
Navegando no meu basto.


CORAÇÃO DE PROVÍNCIA

MILONGA

MEU CORAÇÃO VEM DO CAMPO,
ABANOS DE UM PALA RUBRO,
DO ENTARDECER DO RINCÃO,
DE ONDE FICOU MEUS REMANSOS.

TROUXE UMA LUZ PRA OS ESCUROS,
UM VAGALUME PALHEIRO,
E OS REMÉDIOS PRA OS FEITIÇOS
DAS SABENÇAS DOS JUJEIROS.

DAS NOITES TROUXE O SILÊNCIO
QUE ESCUTO QUANDO ME APOTRO,
AMENIZANDO A MEU MODO
ANGUSTIAS DE UM AUSENTAR.

E UMA GUITARRA ANTIGA
ALMA DE CAMPO E MADEIRA,
COM O TIMBRE DAS RECORRIDAS
E O BRILHO DAS FOGONEIRAS.

QUANDO EU CISMO BUSCO UM RUMO
POR ENTRE AS COISAS QUE TENHO,
BUSCO MATAR MEUS ANSEIOS
NO MODO DE AQUERENCIAR.

ESTA ALMA JÁ PREVIA
OS PONTAÇOS DA SAUDADE,
POR ISSO CONSTRÓI MLONGAS
PRA ESCORAR AS SOLEDADES.

É QUE EU JÁ VIM VOLTANDO,
VEM O CORPO E A ALMA FICA,
DE NADA ADIANTA RUMBIAR
UM CORAÇÃO DE PROVÍNCIA.

UM CORAÇÃO DE PROVÍNCIA
QUANDO RUMBEIA DE LÁ,
VIVE A CANTAR MILONGAS
PRA PODER SE ENCONTRAR.



A tropa   milonga (toada de ronda)


Largo no mais esta cantiga,                                                                                                                       De tropa larga, de tropa linda,
Que é bem antiga, gaúcha e calma,
Que ainda vive nas nossas almas.

Coisa mais linda coar a tropa,
Poeira e casco, a procissão
Vida e estrada, e um coração,
Batendo a marca das recolhidas.

E o meu cavalo conhece o tempo,
Sabe dos ventos varrendo o chão,
Chegou inteiro nesta charqueada,
Veste a saudade lá das missões.

E a minha guitarra pediu licença,
Pras noites calmas de acampamento,
Rondando a tropa junto ao braseiro,
Timbrou milongas de fundamento.

Meu velho poncho que tem dois pelos,
Por dentro é o rubro de um braseiro,
E o meu sombreiro de folha larga,
É um céu de abas pra um tropeiro.

Não houve estouros,
A tropa é calma,
Empresta a vida pra o velho mundo,
Empresta o couro pra um laço forte,
Cinchar a luz, num tempito escuro.

E os meus olhos chegam floridos,
Destes rincões de moças lindas,
Donde as janelas dos rancherios,
O espio moreno pra comitiva.



Obs: o poema diz respeito a uma tropa vinda das missões para as charqueadas de Pelotas, fato muito comum na época das charquedas.